31.12.04

Foi bom em 2004 (e isso não é balanço de ano velho)


. Cinema bom: Edukators, Os sonhadores, Festival do Rio ... . Literatura:
A viagem vertical (
Enrique Vila-Matas)
A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón)

. TV: Angels in America,
Desperate Wives, Os assumidos, Sopranos...

. Teatro: Soppa de Letra, As Pequenas Raposas
. Música: Brasileirinho, John Pizzareli...

E muito, muito mais.

Ok, o guapo rapaz da foto também é um dos bons momentos de 2004. Trata-se de Miguel Angel Munoz, um jovem ator espanhol que canta, dança, representa e ainda não filmou com Almodóvar.






A lixeririnha levinha de 2004

A lixeira é levinha, mas está cheinha, apesar de tantos momentos generosos do ano que se vai. Os 10 ítens mais frequentes da lixeirinha, sem ordem de preferência:
. Toda e qualquer forma de tsunami
. Frases inesquecíveis do Seu Lula (que por isso mesmo não serão aqui reproduzidas)
. A grosseria carioca nos cinemas
. A campanha "
de resgate da auto-estima do brasileiro", capitaneada pelo Banco do Brasil
. Cineastas brasileiros sonsos
. "Críticos" de cinema péssimos com destaque para os caras do O Globo
. Aquela parte da sociedade americana que reelege um Bush
. O umbiguismo dos blogs e de certos personagens públicos que povoam nosso cotidiano
. O caraboquismo de outros tantos
. Projeto de lei de deputados evangélicos em apoio a gays "arrependidos"

30.12.04

Levezas para 2005


Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Atenção! Momento nem tão leve assim, porém imprescindível em tempos de cólera

"Ao entrar no ônibus que o conduziria ao avião - que me leva para além de não sei o quê, pensou Mayol bastante nervoso, para não dizer um tanto fora de si -, sentiu voltando com força à sua consciência a tráfica idéia deste ato sempre mutável é o de lembrar, as transformações que sofrem as lembranças quando revividas, a dificuldade de dominar com plenitude total a memória do que foram nossos dias e, enfim, o desastre cotidiano de ver como se dissolve - nosso memória não é mais do que o conjunto de estilhaçoies de uma barca quebrada - a unidade de nosso mundo e do que se viveu".

A viagem vertical - Enrique Vila-Matas

29.12.04

Afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade, originalidade e muito óleo de peroba.



Cerca de R$ 13 milhões serão gastos pelo governo federal, por meio do Banco do Brasil, em uma campanha publicitária de final de ano. O montante será destinado à produção de sete curtas-metragens, com duração de três minutos cada, que visam destacar “valores do povo brasileiro”: afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade e originalidade. A campanha será veiculada entre os dias 24 de dezembro e 4 de janeiro, em TV aberta. O material foi produzido por sete diretores de destaque do cinema nacional, que receberam pelo trabalho, cada um, R$ 700 mil. Na entrevista de divulgação da campanha, realizada no Centro Cultural do BB, os cineastas disseram que estavam "orgulhosos" de fazer o trabalho. "Todos estamos a favor do Brasil", afirmou o diretor Daniel Filho, coordenador da campanha. Quando indagado sobre o uso político dos filmes pelo governo, Daniel Filho disse que a "oposição só existe para políticos terem emprego". Ele negou, no entanto, que seu trabalho esteja "sincronizado" com a política do presidente Lula. Já o diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato, não quis detalhar, quando questionado, sobre a distribuição dos recursos. "O orçamento está na casa de R$ 13 milhões", resumiu.
A platéia e parte dos cineastas presentes do auditório reagiu com ironia quando jornalistas questionaram sobre os recursos gastos pelo banco na publicidade. A atriz Baby do Brasil, integrante de um dos curtas, reagiu indignada na platéia: "Essa qualidade que está aqui merece todo o nosso respeito e aplausos, glória a Deus irmão por isso", gritou. O diretor Daniel Filho, autor do filme “Alegria”, interveio: "Não Baby, deixa a gente falar. Minha conta está aberta para qualquer CPI". O cineasta Andrucha Waddington, do curta "Originalidade", tentou quebrar o clima de insatisfação dizendo que “comerciais de 30 segundos de duração saem no mercado por R$ 2 milhões. Em se tratando de curta, o dinheiro (R$ 700 mil) é até generoso, mas em termos de comercial, é muito barato", avaliou. Responsável pelo filme "Conhecimento", Carlos Diegues evitou comentar sobre críticas anteriores que fez em relação à política cultura do governo. "Eu não tenho vontade de falar de política, não foi para isso que eu vim aqui."
Publicado em 21.12 - 17h33.
http://vejaonline.abril.com.br/

Democrata o rapaz, não é? Logo ele, que serviu tão bem à ditadura na TV Globo. Claro, Daniel Filho negou que seu trabalho esteja "sincronizado" com a política do governo. Todos fizeram questão de ressaltar a "liberdade" em realizar os trabalhos. O diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato, não detalhou a distribuição dos recursos. Este diretor Pizzolato é aquele mesmo gênio que teve a idéia de contratar a dupla Zezé de Camargo e Luciano para cantarem na jantar realizado na Churrascaia Porcão, no dia 13 de agosto, em que o PT arrecadava dinheiro para a compra do edifício para sua sede em São Paulo. Sete cineastas foram escolhidos pelo Banco do Brasil do PT: Andrucha Waddington (o marido de Fernanda Torres), Beto Brant, Cacá Diegues, Carla Camuratti, Daniel Filho, Fernando Meirelles e Jorge Furtado (petista de carteirinha).
editorial.locaweb.com.br/materiapolítica/o_comando.htm



22/12/2004 - R$ 3.888,88 por segundo
Por: FERNANDO RODRIGUES

R$ 3.888,88 por segundo

BRASÍLIA - O Banco do Brasil vai torrar R$ 13 milhões numa campanha publicitária de final de ano. Segue na mesma linha do comercial "o melhor do Brasil é o brasileiro".
A dinheirama é para exaltar sete "valores brasileiros" (sic) -afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade e originalidade. Laboriosa, a diretoria do BB convidou sete diretores para realizar sete filmes de três minutos cada.
Coincidência ou não, alguns dos sete diretores convidados são contra o projeto da Ancinav, a agência que o Planalto deseja criar para controlar atividades culturais.
Mais coincidência: os diretores ganham R$ 700 mil cada para criar e produzir os seus três minutos sobre os tais valores. Embolsam R$ 3.888,88 por segundo de filme. Tudo para dizer o quanto o "conhecimento" faz parte do patrimônio nacional.
O argumento básico para defender a campanha é conhecido. O Banco do Brasil concorre no mercado. Precisa fazer anúncios. Como o BB é rentável, faz o que bem entende com o seu dinheiro. Mais ou menos.
O principal acionista do Banco do Brasil é o governo federal -logo, a campanha dos "valores brasileiros" é realizada com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Ninguém sabe com precisão quanto a instituição consome em propaganda e em patrocínio, salvo em uma outra campanha.
No domingo de manhã, liga-se a TV e dezenas de pessoas de amarelo estão jogando vôlei de praia ou estão na torcida. O telespectador nem imagina que o dinheiro da brincadeira sai do seu bolso. Outro assunto proscrito no BB e no governo é o quanto se gasta com publicidade neste ou naquele jornal, revista, TV ou rádio.
Há uma tradição no Brasil de governos tentarem levantar o ânimo dos miseráveis com propaganda. Foi assim na ditadura. Nos governos civis, idem. Com FHC, estatais faziam campanhas monumentais. Agora, com Lula, a história é a mesma.
Eis aí um valor genuinamente brasileiro: edulcorar a realidade torrando dinheiro com publicidade.

Fonte: Folha de São Paulo
http://www.resenha.inf.br/politica/?page=artigos&actions=view_artigo&artig_cod=10601

Suzan Sontag

"Se queremos lembrar, então precisamos da imagem; se queremos, ao contrário, entender, então precisamos da palavra, da escrita. Eu não estaria nunca disposta a renunciar às imagens, ao prazer que uma imagem me dá, o qual não é em nada um prazer inferior àquele fornecido pelo conhecimento; é um prazer diferente. Se o problema é entender aguma coisa, daí sim: as palavras são superiores. ...
A grande força, o grande poder dos EUA se baseia em três convicções incontestáveis que o nosso povo conserva intactas. A primeira convicção é que os EUA são a exceção a todas as regras históricas. As regras dizem que os povos e as Nações erram? Os EUA não erram nunca. A segunda convicção é que os EUA não podem perder: triunfam sempre. A terceira convicção é que os EUA são sempre bons, sempre fazem aquilo que é correto. Existe ainda outra certeza, ligada a estas três: que nenhum líder americano foi maldoso. Talvez algum tenha sido um pouco corrupto, um pouco medíocre, mas maldoso nunca. Em nenhum outro país do mundo acontece isso. "

28.12.04

Programa bem levinho de fim de ano: Connie and Carla



Connie and Carla

Toni Collette and Nia Vardalos são duas falsas drags queen em Coonie and Carla. Sessão pipoca para gays e heteros, politicamente correto e bem divertido. O roteiro é da Nia Vardalos que também encara a produção-executiva. As duas estão ótimas, mas Toni Collette - recusando-se a ser uma escada de luxo para Nia - arrasa. Vale conferir nas locadoras.

Liza

A lua faz das suas e nem sempre os lunáticos ocupam-se de suas respectivas luas. Liza caiu da cama dormindo e está no hospital. Ela sai para o 31 de dezembro, ah, sai.

A noite americana

La Nuit Américaine
La Nuit Américaine de François Truffaut (1973)

Quem viu La Nuit américaine (1973), de François Truffaut, nunca mais foi ao cinema impunemente. Especialmente, quem viu naqueles idos.
É um filme sobre a realização de outro filme, intitulado Je Vous Presente Pamela.
François Truffaut atua nos bastidores.
A "noite americana" é uma técnica de iluminação que simula a noite na filmagem durante o dia. Recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1974.
Jacqueline Bisset, divina. Jean-Pierre Aumont, já em transe.
Eu filmo o dia durante à noite com essa minha compulsão a permanecer desperto nas madrugadas. É um filme, ao meu modo, sem o talento de Truffaut. Ça va.

27.12.04

O Tsumani que pesa sobre nós





Não há leveza que resista a um maremoto que leva tantas vidas sob a lua cheia, a lua que transborda.

Gena Rowlands e John Cassavetes

Adoro os dois. Lindos e talentosos. "A Woman under the Influence" (1974) e "Gloria" (1980) são absolutamente necessários.

26.12.04

Bem levinho

Este é o enésimo blog que abro. Por razões as mais diversas, nenhum foi à frente.

A maioria dos blogs são tão masturbatórios e auto-referentes. Sempre temi cair nessa cilada.
Nada contra egos e onanistas, mas tudo que abunda, exaure.

Optei pelo nome "levinho" porque a idéia é deixar fluir como tudo o que é leve. Não o que parece ser leve, mas o que efetivamente o é. Leveza sustentável e dos seres.