29.1.11

“Envelhecer implica uma outra arte de viver”

postado por Tatiana Mendonça @ 10:34 AM
26 de janeiro de 2011
Emanuella Sombra


Foto: Fernando Vivas
Sentado à beira da piscina, Gilberto Gil se despede aos poucos da casa onde mora quando está na Bahia. A partir do segundo semestre, a residência do Horto Florestal – das festas e das reuniões de petit-comité promovidas pela esposa Flora – deixará de ser o tranquilo e confortável refúgio em Salvador. A mudança para um apartamento amplo no Corredor da Vitória acompanha o caminho natural de toda e qualquer família. “A casa esvaziou, os meninos já estão grandes, se criaram. Em geral passavam férias aqui, e não mais”, sorri o patriarca, com a leveza e a simplicidade que lhe são característicos. Aos 68 anos, Gilberto Passos Gil Moreira quase nunca sai. Desde o Natal na capital baiana, onde fará show de lançamento do CD e do DVD Fé na Festa, dia 30, na Concha Acústica do TCA, tem uma rotina extremamente caseira. Nas poucas vezes em que põe os pés na rua, vai dirigindo o próprio carro até a Barra Avenida, onde vive a mãe. Se a rotina permite, acorda por volta das dez da manhã, lê os principais jornais do Brasil e do mundo, rende-se ao barulho dos netos pequenos, fala ao telefone. De sandália e bermuda, anuncia que fica aqui até o Carnaval. Foi-se embora a postura formal de ministro da Cultura, cargo exercido de 2003 a 2008, durante o governo Lula. Gil mudou o disco. Ícone da MPB, corresponsável pelo movimento tropicalista e dono de uma carreira antológica, o senhor elegante de cabelos brancos transforma o tempo como na música que empresta título à capa desta edição. Como premonição transformada em melodia em 1984, Tempo Rei nunca foi tão apropriada.

Quando o senhor saiu do MinC, sua mulher, Flora Gil, disse que a política lhe tirava o sono. Já consegue dormir?
Hoje em dia eu já durmo (risos). No tempo do ministério, eu acordava no máximo às sete da manhã e dormia tarde, havia viagens constantes, um tempo que, do ponto de vista físico, já era demasiadamente ocupado. E tinha a questão psíquica mesmo, da preocupação. Mesmo enquanto dormia, permanecia sempre a situação de sobressalto, a prontidão absoluta, a expectativa sobre o dia seguinte, se as coisas iam andar, o que a imprensa ia publicar. Era uma vigília permanente. Agora, não. Com exceção dos períodos de gravação, hoje em dia eu acordo às dez horas da manhã.

O que o senhor faz durante esse tempo?
Raramente saio. Eu leio jornal todo dia. Jornais de São Paulo, jornais daqui, do Rio, do mundo. Com a facilidade da internet, você pode ler El País, Le Monde, The New York Times… Leio tudo, não com a preocupação do acompanhamento da notícia, mas pelo sentido que eles têm, de cobrir o existencial. Tanto que eu leio mais os segundos cadernos, cadernos esportivos. Os primeiros cadernos também, mas não para me referir à notícia de ontem, relacionada à primeira notícia de amanhã.

Então o senhor deve estar acompanhando a crise por que passa hoje a Prefeitura de Salvador.
As administrações municipais são sempre muito cobradas. Elas que cuidam da limpeza pública, do transporte coletivo, da questão urbanística. A questão recente das barracas (de praia), que vários governos adiaram por ser uma decisão complicada, a prefeitura acabou resolvendo. De certa maneira, entra na conta positiva desse governo. Mas há também a diferença de tônus administrativo. Há governos que têm mais tônus, mais força e vibração. Outros são mais claudicantes, e isso vai muito da personalidade dos gestores, da qualidade técnica dos auxiliares, dos secretários. E, num certo sentido, vai cada vez mais do próprio modo de ser da população.

Como assim?
As populações estão cada vez mais responsáveis por uma série de problemas. No caso de Salvador, as encostas, o tratamento das invasões, o modo equivocado com que se trata a questão do lixo e o transporte, essa tentativa de substituição do transporte público pelo automóvel. É um ciclo vicioso, mas aí é que está. Não se pode somente responsabilizar a autoridade. É uma questão cultural, não é uma questão política só.

Mas há problemas que são exclusivamente administrativos, como, por exemplo, a incapacidade de concluir a primeira fase do metrô.
Tenho impressão de que, se fosse possível uma inversão de cultura em relação a vários desses problemas, se transporte coletivo fosse uma coisa almejada, desejada pela população, ela adquiriria uma capacidade maior de pressão. E quando eu digo a população, eu digo setores que têm capacidade de pressão política. As classes médias – e não é um problema brasileiro, mas mundial – tendem a ser as que mais desprezam o sentido da responsabilidade pública, e por isso estimulam o desprezo, a negligência por parte do poder público. O sonho da classe média é ter o carro, não o metrô. É um sonho fáustico, ligado a uma ideia abstrata de bem-estar. É assim com o transporte e é assim com uma série de coisas, com o consumo, a alimentação…

Houve mudanças na postura da população, como a de eleger, sem que isso fosse uma bandeira, uma mulher presidente.
A eleição impõe respeito nesse sentido. Isso é uma coisa importante, valia tanto para Dilma como para Marina Silva. No caso de Dilma, existe a responsabilidade de prosseguir, deslocar um processo relativamente exitoso do Lula e interesses próprios dela, de afirmação. Existem questões de competência gerencial, de gosto pela tomada de decisão que, embora se alegue que não são conhecidas do grande público, de mim são conhecidas, eu, que convivi com a Dilma seis anos. Eu sei que ela é hábil e preparada.

Mas, embora tenha dito que votou em Dilma no segundo turno, o senhor declarou apoio a Marina Silva no primeiro.
Marina já é outra coisa. Marina é o deslocamento para uma visão nova de sociedade, uma visão mais crítica de modelo civilizacional da qual eu participo. Tenho impressão de que Dilma também participa dessa visão, mas a mensagem política dela ainda se coloca num campo relativamente clássico de civilização. Marina tem outro deslocamento, preocupações mais universais, mais adiante.

Houve impasses entre a política proposta pelo senhor e a gestão de Antônio Grassi à frente da Funarte, que volta agora no ministério de Ana de Hollanda.
Eu não tive impasse com o Grassi. O que eu tive com o Grassi foi a necessidade de optar pela desistência do trabalho dele, por uma questão de avaliação de desempenho geral do ministério. Naquele momento, o mais importante era trocar.

Dizem que a política envelhece as pessoas. Como ex-ministro, o senhor sentiu este processo?
Eu não sei. As pessoas têm uma espécie de elemento de teste com os cabelos. “Ah, porque o exercício político embranquece os cabelos” (risos). Não sei se foi isso, os meus já estavam ficando brancos. Os governantes estão submetidos a situações aflitivas o tempo todo, a saias justas, potenciais de escândalos, de críticas, de rejeições e menosprezos. É um fator psicossomático muito grande esse peso de reflexos sobre o físico e o psíquico. Por outro lado, o homem público é talhado e vocacionado para isso, o sistema imunológico dele é mais forte. Eu não sou vocacionado, não sou político, não sou nem mesmo um gestor público como outros são. Eles, em geral, têm uma carreira política. Eu não tinha, não tenho e não terei (risos).

Em 2008, o senhor teve um problema de calo nas cordas vocais que incentivou a sua saída do Ministério da Cultura.
Isso foi um dos problemas, eu tinha de usar muito a fala, que é um uso mais exigente do que o canto. Tive problemas para cantar que eram agravados pelo fato de eu não ter o descanso, que é a solução do problema das cordas vocais.

O ministério prejudicou sua voz?
Acho que sim, um pouco. Tive de fazer cirurgia, a remoção do calo, me submeter à fonoterapia. E acresce-se a isso a queda do desempenho vocal por conta do envelhecimento. Um músculo velho não é o mesmo de um jovem, ainda mais um músculo afetado pelo cansaço.

A rotina mudou por conta disso?
Mudou. Eu cantava muito mais intensivamente do que hoje. Antigamente, eu não tinha a menor preocupação com a programação, fazia uma semana de shows consecutivos, três, quatro por semana. Eventualmente, ficava mais rouco, mas o desempenho da voz não era afetado. Hoje em dia, não. Eu tomo cuidado nas excursões, seja no Brasil ou no exterior, de me permitir mais descanso, não ter que sair correndo, pegar avião no dia seguinte para fazer show à noite noutra cidade.

Estar próximo dos 70, e com estas limitações, impacta psicologicamente?
Muda o sentido de atenção, de cuidado. O desempenho físico é outro, as tarefas, os afazeres são afetados. E isso também afeta o desempenho psíquico. A memória é uma coisa que é afetada drasticamente, ela começa a ter menos resposta do que antes. Envelhecer implica uma outra maneira de viver, uma outra arte de viver, novas autorresponsabilidades. Você passa a ter que responder a si próprio de maneira diferente, a dizer sim de maneira diferente, a dizer não mais severo, com mais intensidade, mais frequência. Passa a aceitar o sentimento da renúncia com mais resignação.

O senhor pode explicar melhor?
Renunciar a muita coisa que você não pode fazer mais, como subir uma escada, que era um ato inconsciente e irresponsável. Hoje em dia, envolve todo um desempenho e um empenho, um cuidado ao subir ou descer uma escada que me obriga a renunciar a tudo aquilo, à espontaneidade, ao desleixo, a uma impetuosidade. Uma série de coisas que eram características da fase jovem da vida e que agora têm de ser renunciadas porque, se não forem, podem incorrer em grandes riscos para a minha integridade (risos). Dirigir é outra coisa. Eu dirijo em qualquer lugar, aqui em Salvador, no Rio, e hoje em dia o cuidado é muito maior. Não só o cuidado, mas a necessidade de intensificar a atenção por causa da inibição dos reflexos. Isso cria uma tensão psicológica maior, que, por sua vez, cria uma tensão física que a gente precisa se livrar para recompor a condição de relaxamento. Tem todo um trabalho novo. A velhice é uma nova infância no mesmo sentido dos cuidados específicos.

Isso tem a ver com o fato de o senhor não se submeter mais ao desgaste físico de cantar num trio elétrico?
Eu parei com o trio por causa da voz, do cansaço. Impossível na minha idade, na minha configuração de disposição e estado físico, enfrentar sete, oito horas de trio, isso duas, três, quatro vezes no Carnaval.

Em matéria publicada semana passada em O Dia, Ney Matogrosso é colocado como “um jovem senhor de 69 anos” que não se deixa intimidar pela idade.
Cada pessoa é uma pessoa (risos). A juventude, para mim, agora é outra história, ela tem que se dar no sentido espiritual, da disposição para o encontro permanente com as instâncias de bem-estar, com a resignação, a capacidade de renúncia.

Nesse sentido, o senhor continua rigoroso com a dieta macrobiótica e a ioga, que já vinha praticando?
Elas continuam. E são responsáveis por esse plano de consciência e de aceitação da velhice, de constatação da diferença do desempenho do homem velho que eu começo a ser em relação ao homem jovem que eu fui. É preciso a compatibilidade com essa noção, o não lutar contra, o não se angustiar, o não se entristecer, o “ah, que horror que eu não sou mais jovem”, essa autopiedade. É preciso substituir o não poder pelo não querer, configurar o não poder com essas outras semânticas. O não poder tem que estar bem-vestido, trajado com outras dimensões da vontade.

Em entrevista à Veja, em 2004, o senhor disse que estava se tornando um agnóstico. Esse processo continua?
Houve um processo, geralmente inverso ao das pessoas quando envelhecem, de constatar que eu já não era crente como antes, isso até eu substituir a crença pela descrença. Depois, cheguei a uma outra instância de neutralidade, à anulação dessa polaridade do crer ou descrer. Hoje eu nem creio nem descreio, não sinto necessidade da eleição dos objetos da crença, o Deus, os entes externos que habitam este mundo da transcendência. Nem preciso deles nem preciso do ateísmo. E não preciso achar, como eu achava antes, que quem acredita é melhor do que o incréu. Ou achar, hoje, que o incrédulo é melhor. Quem escolhe uma polaridade tende a achar que o outro não está certo, que ele é menor. É isso que autoriza o processo catequético. Eu não quero ter essa necessidade, me tornar missionário, discriminatório, juiz de nada.

Flora, por outro lado, é muito religiosa. Como foi a reação dela?
Flora é de origem católica, acredita fortemente no Deus e tem uma devoção muito grande pelos orixás. Ela é muito inteligente no sentido da percepção intelectual, na capacidade que a linguagem acadêmica chama de exegese. Ela faz a exegese, a leitura do meu modo de ser de uma forma muito tolerante e cordial. E até entende, acaba chegando ao mesmo nível que o meu, da indiferença entre crer e não crer. Ela sabe que a diferenciação qualitativa dessa questão está no uso que se faz da crença e da descrença. É mais uma questão moral e ética do que propriamente religiosa. Nesse sentido, nós somos afinados.

Na letra de Flora, composta em 1979 (ela tinha 19 anos), o senhor descreve justamente a mulher de hoje: “Imagino-te futura/ Ainda mais linda, madura/ Pura no sabor de amor e/ De amora”.
Eu acho engraçado, fico olhando para ela. Essa música talvez seja a única que eu compus em que a dimensão profética era adequada, correta. Ela é uma pessoa que o tempo passou nela, por ela e com ela da forma que passou na canção. Farta, forte, bela (risos). Tem muito a ver com a firmação do nosso pacto de união. É uma música a quem eu atribuo muito valor para além do estético.

Curioso, porque para o público há uma relação muito mais intensa com Drão (feita para a ex-mulher Sandra Gadelha).
Quando você falava da música Flora eu também fiquei pensando em Drão. Claro que ali não é a mesma questão, não é uma música descritiva de um futuro, é de um passado. Mas também é uma música fiel ao desejo de preservação do amor, da intensidade, da profundidade do compromisso afetivo. Tudo isso se deu no mesmo grau. Hoje eu sou, em relação a Sandra, aquilo que eu queria passar a ser depois que eu me afastei dela como companheiro. E esse companheirismo foi se dando em outros planos. Nesse sentido da intensidade contida nas duas canções, acho que elas são verdadeiras e extrapolam a profundidade estética, poética. No caso meu, de Flora e de Sandra, nós sabemos o que está sendo falado ali. Está para além do plano captado pelas pessoas.

Em casa, como o senhor vê a vocação artística de alguns de seus filhos?
Há pais que sonham com a continuidade, investem. Osmar Macedo, por exemplo, criou um ambiente especial para o desenvolvimento artístico dos filhos, cuidou do Armandinho. Moraes (Moreira) também se dedicou a acompanhar o talento do Davi (Moraes). Eu tenho impressão de que Caymmi não fez isso com os filhos, eu também não fiz com os meus (risos). É outra maneira de ver, é deixar espontaneamente. Eu me lembro que Pedro, meu filho que morreu e que era baterista, só foi demonstrar algum interesse por música com 14, 15 anos. O Bem, que hoje é músico, também. A Preta começou a cantar com 20 e tantos anos, Nara também. Agora, isso é uma coisa. Outra é o meio ambiente. Estas pessoas crescem em entornos saturados de vida estética, de música, de artistas. A propensão é muito maior de estarem envolvidos.

Cinquenta e sete álbuns gravados, 8 Grammys. Há lacunas que o senhor percebe na sua trajetória como artista?
Sempre fica. Eu nunca fiz um disco dedicado ao samba, que é uma coisa que eu queria fazer e que talvez ainda faça. A dificuldade é que os outros gêneros são mais configurados dentro de rótulos e de elementos estéticos mais efetivos. O samba é uma coisa imensa, uma gama enorme, existem sambas de todos os tipos.

O que fez o senhor voltar ao forró agora, com o Fé na Festa?
Isso se deve à impregnação da infância. Meu habitat original é a música nordestina, a vida na caatinga, no interior da Bahia, saturada de sanfoneiros, de serviços de alto-falante tocando Luiz Gonzaga. Eu sou desse mundo aí. É a velhice me levando para a infância (risos).

http://revistamuito.atarde.com.br/?p=6156

21.1.11

All Good Things


All Good Things is a 2010 romantic mystery film directed by Andrew Jarecki starring Ryan Gosling and Kirsten Dunst. The film is inspired by the life of Robert Durst as it tells the story about an heir to a New York real estate fortune whose wife, Kathleen McCormack, disappears. All Good Things was filmed between April and July 2008 in Connecticut and New York. The film was originally scheduled for a July 24, 2009, release, but was further delayed with a limited release of December 3, 2010.

The official trailer was released on October 14, 2010




15.1.11

Soundtrack for a revolution







Soundtrack for a Revolution is a 2009 documentary film written and directed by Bill Guttentag and Dan Sturman. This documentary traces the story of the civil rights movement and the struggles fought by young African-American activists with an emphasis on the power of music. Soundtrack for a Revolution had its international premiere at the Cannes Film Festival and its North American premiere at the Tribeca Film Festival. Soundtrack for a Revolution was selected by the Academy of Motion Picture Arts and Sciences as part of the Oscar shortlist for the Documentary Feature category of the 82nd Academy Awards. The film has screened at numerous festivals including Cannes, Tribeca, IDFA and Sheffield Doc/Fest.

http://en.wikipedia.org/wiki/Soundtrack_for_a_Revolution

O bom combate



“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).