A memória é algo com muitas nuances. Hoje, navegando pela internet, meio sem direção, encontrei um vídeo de Taiguara. Eu adorava Taiguara nos anos 70. Algumas canções dele fazem parte das minhas histórias de vida: “Hoje”, “O Universo do teu corpo”, “Helena, Helena” e por aí vai... Muitos anos depois escutei o disco incrível do Taiguara, de 1976, Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara, com Hermeto Paschoal, só recentemente divulgado. Esse disco foi censurado (como muitas canções dele) e todas as cópias recolhidas pela ditadura após três dias de distribuído, mas não é isso que o torna especial. São canções realmente muito bonitas. Pode ser ouvido em taiguara.art.br
Em 1986 Taiguara fez um show incrível chamado "Treze Outubros". Lá pelas tantas, ele conta de uma forma emocionante e, ao mesmo tempo, hilária, seu diálogo com os censores da ditadura. Poucos artistas foram tão censurados pela ditadura, o que torna seu depoimento um registro contundente não apenas sobre aqueles anos, mas das esperanças que existiam nos anos 80. Logo após contar sua história, Taiguara emenda com "Que as criancas cantem livres".
É estranho como alguém da qualidade artística e a trajetória, inclusive de resistência na ditadura, de Taiguara seja tão pouco lembrado. É estranho como, mesmo a "memória dos vencidos", pode ser, anos depois, desenhada a favor de uns em detrimento de outros.
Vale a pena conferir o vídeo