29.12.04

Afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade, originalidade e muito óleo de peroba.



Cerca de R$ 13 milhões serão gastos pelo governo federal, por meio do Banco do Brasil, em uma campanha publicitária de final de ano. O montante será destinado à produção de sete curtas-metragens, com duração de três minutos cada, que visam destacar “valores do povo brasileiro”: afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade e originalidade. A campanha será veiculada entre os dias 24 de dezembro e 4 de janeiro, em TV aberta. O material foi produzido por sete diretores de destaque do cinema nacional, que receberam pelo trabalho, cada um, R$ 700 mil. Na entrevista de divulgação da campanha, realizada no Centro Cultural do BB, os cineastas disseram que estavam "orgulhosos" de fazer o trabalho. "Todos estamos a favor do Brasil", afirmou o diretor Daniel Filho, coordenador da campanha. Quando indagado sobre o uso político dos filmes pelo governo, Daniel Filho disse que a "oposição só existe para políticos terem emprego". Ele negou, no entanto, que seu trabalho esteja "sincronizado" com a política do presidente Lula. Já o diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato, não quis detalhar, quando questionado, sobre a distribuição dos recursos. "O orçamento está na casa de R$ 13 milhões", resumiu.
A platéia e parte dos cineastas presentes do auditório reagiu com ironia quando jornalistas questionaram sobre os recursos gastos pelo banco na publicidade. A atriz Baby do Brasil, integrante de um dos curtas, reagiu indignada na platéia: "Essa qualidade que está aqui merece todo o nosso respeito e aplausos, glória a Deus irmão por isso", gritou. O diretor Daniel Filho, autor do filme “Alegria”, interveio: "Não Baby, deixa a gente falar. Minha conta está aberta para qualquer CPI". O cineasta Andrucha Waddington, do curta "Originalidade", tentou quebrar o clima de insatisfação dizendo que “comerciais de 30 segundos de duração saem no mercado por R$ 2 milhões. Em se tratando de curta, o dinheiro (R$ 700 mil) é até generoso, mas em termos de comercial, é muito barato", avaliou. Responsável pelo filme "Conhecimento", Carlos Diegues evitou comentar sobre críticas anteriores que fez em relação à política cultura do governo. "Eu não tenho vontade de falar de política, não foi para isso que eu vim aqui."
Publicado em 21.12 - 17h33.
http://vejaonline.abril.com.br/

Democrata o rapaz, não é? Logo ele, que serviu tão bem à ditadura na TV Globo. Claro, Daniel Filho negou que seu trabalho esteja "sincronizado" com a política do governo. Todos fizeram questão de ressaltar a "liberdade" em realizar os trabalhos. O diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato, não detalhou a distribuição dos recursos. Este diretor Pizzolato é aquele mesmo gênio que teve a idéia de contratar a dupla Zezé de Camargo e Luciano para cantarem na jantar realizado na Churrascaia Porcão, no dia 13 de agosto, em que o PT arrecadava dinheiro para a compra do edifício para sua sede em São Paulo. Sete cineastas foram escolhidos pelo Banco do Brasil do PT: Andrucha Waddington (o marido de Fernanda Torres), Beto Brant, Cacá Diegues, Carla Camuratti, Daniel Filho, Fernando Meirelles e Jorge Furtado (petista de carteirinha).
editorial.locaweb.com.br/materiapolítica/o_comando.htm



22/12/2004 - R$ 3.888,88 por segundo
Por: FERNANDO RODRIGUES

R$ 3.888,88 por segundo

BRASÍLIA - O Banco do Brasil vai torrar R$ 13 milhões numa campanha publicitária de final de ano. Segue na mesma linha do comercial "o melhor do Brasil é o brasileiro".
A dinheirama é para exaltar sete "valores brasileiros" (sic) -afeto, alegria, confiança, conhecimento, fraternidade, identidade e originalidade. Laboriosa, a diretoria do BB convidou sete diretores para realizar sete filmes de três minutos cada.
Coincidência ou não, alguns dos sete diretores convidados são contra o projeto da Ancinav, a agência que o Planalto deseja criar para controlar atividades culturais.
Mais coincidência: os diretores ganham R$ 700 mil cada para criar e produzir os seus três minutos sobre os tais valores. Embolsam R$ 3.888,88 por segundo de filme. Tudo para dizer o quanto o "conhecimento" faz parte do patrimônio nacional.
O argumento básico para defender a campanha é conhecido. O Banco do Brasil concorre no mercado. Precisa fazer anúncios. Como o BB é rentável, faz o que bem entende com o seu dinheiro. Mais ou menos.
O principal acionista do Banco do Brasil é o governo federal -logo, a campanha dos "valores brasileiros" é realizada com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Ninguém sabe com precisão quanto a instituição consome em propaganda e em patrocínio, salvo em uma outra campanha.
No domingo de manhã, liga-se a TV e dezenas de pessoas de amarelo estão jogando vôlei de praia ou estão na torcida. O telespectador nem imagina que o dinheiro da brincadeira sai do seu bolso. Outro assunto proscrito no BB e no governo é o quanto se gasta com publicidade neste ou naquele jornal, revista, TV ou rádio.
Há uma tradição no Brasil de governos tentarem levantar o ânimo dos miseráveis com propaganda. Foi assim na ditadura. Nos governos civis, idem. Com FHC, estatais faziam campanhas monumentais. Agora, com Lula, a história é a mesma.
Eis aí um valor genuinamente brasileiro: edulcorar a realidade torrando dinheiro com publicidade.

Fonte: Folha de São Paulo
http://www.resenha.inf.br/politica/?page=artigos&actions=view_artigo&artig_cod=10601