9.2.08

Da informação à sabedoria

por Daniel Piza, Seção: comportamento s 09:49:19.

T.S. Eliot fez em poema algumas perguntas que não poderiam ser mais atuais: “Onde a vida que perdemos no viver? Onde a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde o conhecimento que perdemos na informação?” Hoje vivemos na chamada Era da Informação, mas me parece claro que o conhecimento individual não aumentou, muito menos a sabedoria... Eliot, poeta e ensaísta americano que foi um dos gênios do século 20, tocou no ponto certo ao distinguir esses três níveis: informação, conhecimento e sabedoria. No entanto, acho fundamental que se diga que não é por culpa da informação que não temos conhecimento, nem por culpa do conhecimento que não temos sabedoria.

Está mais do que na hora de usar os termos adequados para cada coisa. O que muitas vezes é classificado como “informação” deveria, na verdade, ser chamado de “dado”. Se você disser, por exemplo, que John Maynard Keynes é “um economista inglês”, terá apenas um dado. Se souber resumidamente o que Keynes pensava – a tese de que a máquina pública tem papel essencial na recuperação das economias em recessão, porque seu déficit impulsiona a atividade a tal ponto que será superado depois de alguns anos –, então terá uma informação, ou seja, um dado contextualizado com outros dados. E se você entender que Keynes desenvolveu essa tese justamente quando o Ocidente vivia a crise do entre-guerras, e que mais tarde reviu suas idéias em função do cenário posterior à Segunda Guerra, então terá conhecimento, ou seja, um conjunto de informações vistas em seu peso relativo, em seu valor específico.

E a sabedoria? A sabedoria é o conhecimento transformado em modo de vida. Não existe uma fórmula perfeita para a existência, mas a sabedoria se revela na forma como um indivíduo não permite que esse conhecimento seja fossilizado em certezas perenes, em presunção imutável. Um economista seria sábio se tentasse pensar o que Keynes pensaria caso estivesse em seu lugar e tempo, apenas como exercício de percepção, e não se quisesse repetir Keynes. O próprio Keynes seria o primeiro a dizer que, se os fatos mudam, as opiniões devem mudar também. Mas sabedoria não é ter a opinião certa, é mantê-la aberta. Para isso servem os dados e as informações: para que o conhecimento seja sempre revisto.

“Depois de tanto conhecimento, qual perdão?”, perguntou ainda Eliot, que era tão conservador que se dizia “monarquista, anglicano e classicista”. Ter muito conhecimento não é pecado. Pecado é esquecer que não existe conhecimento disponível no mundo para que saibamos tudo, para que deixemos de ser ignorantes sobre tantas coisas dentro e fora de nós mesmos. Sábio é sempre duvidar do que se conhece. Só assim a vida será vivida em sua grandeza, em vez de desperdiçada. Acesso às informações já temos. Falta saber o que faremos com elas.

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09.2.2008