2.4.09

Quando a gente acha que já viu (e ouviu) tudo





Encontrei esse vídeo da Nina Simone cantando "Feelings" no Festival de Montreux de 1976. O vídeo, seguido do post abaixo, está no blog da Rosana Herman, Querido Leitor:

Um processo foi deflagrado, sem querer. Assim que recebi o email com as fotos do "lugar não identificado", pesquisei, fiz o post e saímos todos a procura do lugar. Em questão de minutos, uma nova proposta surgiu em minha caixa postal, com outro pedido de explicação. Desta vez, sobre um vídeo de Nina Simone, cantando "Feelings" em Montreux, no longínquo ano de 1976.

A dúvida é da Beatriz, que diz não entender inglês bem o suficiente para compreender a intenção de Nina, intepretada como uma atitude 'estranha'. São dez minutos impactantes de uma espécie de manifesto musical, um protesto interpretada, contra a produçco de músicas ruins e das circunstâncias que levam à criação de uma música ruim, no caso, "Feelings".

Por causa desse pedido da Beatriz, fiquei longe do blog, pesquisando e procurando informações. Conto com os especialistas para enriquecerem este post através dos comentários. A partir do que encontrei, eis minha interpretação:

- "Feelings", composta, cantada e lançada pelo brasileiro Maurício Alberto Kaisermann, aka Morris Albert, em 1975, é uma dos mais bem sucedidos absurdos musicais da indústria fonográfica, um sucesso de alcance mundial que prova que popularidade e qualidade podem ser inversamente proporcionais. A melodia, que todos nós conhecemos e cantamos, é um plágio da cancão "Pour Toi"(1958) de Loulou Gasté, compositor francês que processou Morris Albert em 1981, com sucesso, recebendo 88% de todos os royalties gerados pela "obra".

Mesmo tendo sido gravada por grandes nomes como Ella Fitzgerald, Nina Simone, Frank Sinatra, Engelbert Humperdinck, Julio Iglesias, Shirley Bassey, Glen Campbell, Sarah Vaughan, Sergey Penkin e Johnny Mathis (tudo na Wikipedia),"Feelings" tem sido alvo de paródias e ridicularizações, sendo considerada como um expoente da falta de qualidade dos anos 70. A música aparece em muitas listas como "pior canção de todos os tempos" e foi incluída na Rhino Records compilation album '70s Party Killers. Em outras palavras, é uma canção pra acabar com qualquer festa.

A favor de Kaisermann, no entanto, estão os números: o single vendeu mais de 150 milhões de unidades em mais de 50 países e recebeu 4 indicações ao Grammy em 1976.

Diante de tudo isso, fico com a sensação de que muitos artistas devem ter sido obrigados a gravar essa pérola para satisfazer um mercado ávido por bobagens, monstro voraz esse que só cresceu nas últimas décadas em todos os segmentos da mídia. Talvez, e é só um talvez, Nina Simone tenha aproveitado o clima livre do Festival de Jazz de Montreux, na plenitude dos anos 70, para mostrar seu repúdio contra o sucesso robotizado, imposto, falso, vazio e sem nexo, de uma canção ícone de uma arte massificada e totalmente fake.

Poucas pessoas teriam o peito, a garra, a coragem e a competência para fazer o que ela fez, registrado nesse vídeo. São dez minutos de coragem que muita gente não vai ter durante uma vida, nem somando todos os segundos de honestidade e originalidade juntos.

Comentário de um leitor do Querido Leitor:

Isso é Jazz!! improvisação e versatilidade...creio que os duvidosos não conhecem a essência do jazz.
Nina tinha a mania de no meio de uma música conversar com seu público...tipo, se a música era romântica,
ela perguntava ´´você é amada (o)?´´..coisas assim...ficava segundos calada, só olhando a platéia, como se não estivesse no show...improvisava, protestava...e falava algo do nada, que ninguém entendia muito bem...como se reclamasse pra si ... Essa era a Nina Simone...exatamente como está no vídeo. O Festival de Montreux era assim, longos solos, música de 2 que se transformam em 20 minutos, protestos... terreno livre da música.. Pelo que entendi, primeiro ela finge ou percebe que esqueceu a frase ´´Trying to forget my``......diz que ´´ninguém jamais deveria escrever uma cançãp como essa´'que não acredita nas condições e situação que é feita uma canção daquelas...mas isso dando uma bronca porque o publico elitizado não canta a música com ela...depois solta algo como´´vamos, aplaudam, isso é pra vcs!!!!´´ ...Depois ela muda a letra mas em relação ao que sente....dá a sua intepretação pra música...tira a música do sentido romântico de amor homem/mulher e eleva a um contexto geral...é musica, interpretação pra ouvir, sentir, fazer uma reflexão de tudo o que somos e sentimos... o sentimento de que ela fala é o nosso em relação à outras pessoas...da dificuldade das pessoas entenderem a situação de cada um, da falta de amor...fala até mesmo do preconceito que tem da música, por ser sul-americano e conseguir tamanho sucesso... achei até um elogio...é como ouvir uma música linda e perguntarmos..´´como esse cara fez essa música e ninguém ouve?´´..acho que é mais ou menos por ai...no meio da música ela fala algo como se fosse ´´ vamos, deixem a sua alma seguir macio´´... o resto é jazz