4.7.09

Virada russa

La promenade, Marc Chagall

La promenade, Marc Chagall

Exposição Virada Russa no CCBB


Exposição com 123 obras das vanguardas russas chega ao Brasil
Táia Rocha, Jornal do Brasil

RIO - No início do século 20, o mundo pulsava no ritmo das novas ideias, seduzido pelas promessas da segunda revolução industrial e pelas novas correntes políticas, tendo como epicentro a Europa. Nesse contexto, a arte russa protagonizou uma reviravolta sem precedentes na história, suprimida pelo realismo soviético implementado por Stalin, na década de 30. Até então, as chamadas vanguardas russas traduziam, desde o fim do século 19, as aspirações estéticas e políticas dos modernistas, em movimentos como o construtivista e o suprematista. Parte deste vigor artístico, criado por artistas como Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Kazimir Malevich, Aleksandr Rodchenko e Vladmir Tatlin, chega ao público brasileiro na exposição Virada russa, que traz 123 obras ao Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, a partir desta terça-feira, com passagem pelo CCBB–Rio entre 23 de junho e 23 de agosto.

Ania Rodríguez, a curadora cubana que faz parte da equipe que organizou a exposição, detalha os critérios para a seleção.

– Escolhemos as obras que mais bem transmitissem a noção de virada na arte russa, as mais revolucionárias mesmo – frisa a curadora, para quem o maior mérito das diversas correntes da vanguarda foi romper com a arte figurativa e, por conseguinte, com a representação formal das imagens.

Berço do modernismo

Mestre em história da arte pela PUC e formada em estudos da curadoria pela Bart College de Noava York, a crítica de arte Luisa Interlenghi aponta o movimento como berço do modernismo.

– O marco do que aprendemos ser o principal para o início dos modernos é com o cubismo de Pablo Picasso. De fato, mas Tatlin conheceu as obras de Picasso e levou para o plano tátil as ideias dos vários ângulos simultâneos, materializando as imagens modernas – contrapõe Luisa. – A corda de suas obras é uma corda real, os materiais estão ali, em três dimensões.

A curadora também ressalta a importância dos ecos vanguardistas nas artes brasileiras:

– Um dos momentos mais importantes para o modernismo brasileiro, o construtivismo, foi fortemente influenciado pela vanguarda russa.


São Jorge, de Kandinsky, rompe com a escola figurativa

A iniciativa de trazer as obras, que compõem o acervo fixo do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, detentor da maior coleção de obras russas no mundo, partiu do produtor e curador brasileiro Rodolfo Athayde. O curador entrou em contato com o museu russo e conseguiu articular a vinda das obras. A última grande exposição do país por aqui foi a mosrta 500 Anos de arte russa, na Oca de São Paulo em 2002. Virada russa, no entanto, promete ser a maior coletânea do período vanguardista já realizada em solo brasileiro.

A exposição reunirá pela primeira vez obras como os três quadros de Malevich que marcam o começo do rigor geométrico na pintura – Cruz negra, Quadrado preto sobre fundo branco e o Círculo negro sobre um fundo branco.

– Essas três obras, juntas, são as mais importantes da exposição. Malevich desliga a arte de qualquer sentido representativo, fundando o suprematismo – explica Rodolfo Athayde. – É o resultado de uma pesquisa do artista sobre a essência da arte e representa a vanguarda mais radical.


As linhas simples e precisas de Círculo branco, de Rodchenko, causaram impacto

Além de pinturas, esculturas e objetos desenhados pelos artistas, a mostra reúne curiosidades como os figurinos desenhados por Malevich para a importante ópera Vitória sobre o sol, de Alexei Krutchônik (1913).

Filmes da época, como O homem com a câmera, de Dziga Vertov (1929), e Aelita, a rainha de Marte, de Yakov Protazanov (1924), além de documentários recentes, contextualizam artística e politicamente a cena soviética da época, além de cartazes publicitários, artísticos e políticos da época.

A política, aliás, é matéria-prima de todas as obras. Criadas antes e durante a revolução comunista de 1917, muitas peças utilizam os elementos-base da revolução industrial: ferro, vidro, acrílico, novos materiais para novos produtos e para a nova arte que surgia. Ania conta que foi também a política quem adicionou os ingredientes que fizeram desandar a receita da vanguarda.

– Com o stalinismo, os artistas que não seguiam o realismo soviético, o estilo artístico oficial, não eram perseguidos, mas não recebiam incentivos do governo – observa a curadora. – A maioria deles deixou de produzir arte de vanguarda.

20:04 - 06/04/2009
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/04/06/e060417346.asp