25.9.09

Não tem química

É isso que dá ir ao teatro sem ler antes a crítica de Tia Bárbara

Barbara Heliodora: ideias ficam soltas no espetáculo 'Deus é química'

Publicada em 24/08/2009 às 14h44m

Peça 'Deus é química' - Divulgação / Guga Melgar

RIO - Era aguardado com grandes esperanças o novo espetáculo em cartaz no Teatro dos Quatro; tamanha confiança cercava a estreia do primeiro texto teatral de Fernanda Torres que no programa encontramos o nome de cinco patrocinadores e 18 apoios culturais, além da promoção da TV Globo. Os vários nomes famosos ligados à produção, assim como o sucesso de todos os vários trabalhos recentes da dupla Luiz Fernando Guimarães/Fernanda Torres, tornavam óbvia a considerável expectativa a respeito de "Deus é química", e essa expectativa é que torna mais triste o engano geral do espetáculo. A impressão que fica é a de a autora ter captado, no conto de Jorge Mautner, alguma semente de ideia sobre os males contemporâneos que a tentou a criar um texto para o palco, sem maior proveito.

É difícil, no entanto, perceber qual teria sido a dita semente, pois na encenação não se encontra uma única ideia mais original, nada que já não tenha sido mais do que explorado, ficando claro que a tentativa de armar um texto ainda não passou de alguma espécie de primeiro rascunho, já que as ideias ficam soltas, sem a momento algum chegarem a compor algum todo significativo. Faltam humor e acabamento, fica tudo solto e sem nexo.

Encenação confusa e inexpressiva

" Faltam humor e acabamento, fica tudo solto e sem nexo "

A encenação, que tem idealização de Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres e Hamilton Vaz Pereira e direção artística deste último, é confusa e inexpressiva. A ideia inicial de uma leitura ensaiada não tem razão de ser e é periodicamente abandonada para cenas mal-acabadas que nas mais das vezes servem apenas como tentativa de ilustração da leitura. O tiroteio que tem lugar logo no início tem seu equivalente em falas que parecem metralhadora giratória, atirando para um sem-número de assuntos, sem chegar a dizer nada a respeito de nenhum deles, com marcas desleixadas e/ou inúteis, deixando a plateia sem saber o que pensar daquele amontoado de falta de ideias. Uma inexpressiva trilha sonora de Hamilton Vaz Pereira e Wallace Cardia faz parte da gratuidade do todo, sem chegar a ter justificativa.

É difícil falar em interpretação quando o texto não oferece o menor apoio para o elenco. Francisco Cuoco, Jorge Mautner e Fransergio Araújo fazem personagens sem pé nem cabeça, tendendo para o exagero e o caricatural, enquanto Fernanda Torres se desperdiça em um papel que praticamente não existe. Luiz Fernando Guimarães é um pouquinho mais bem servido e por isso mesmo tem um mínimo mais de possibilidade para explorar o que já faz na TV e no cinema. "Deus é química" não chega sequer a ser uma promessa; mas, como está, é um espetáculo longe de estar em condições de chegar ao palco.